A raiva

Posted: segunda-feira, 27 de julho de 2009 by O Blog dos Poetas Vivos in Marcadores:
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De todos os sentimentos que o homem criou, poucos vieram a ser tão convenientes quanto a raiva. Despejamos o diabo sob forma de palavras e atos, sobre quem quer que seja, e passado algum tempo basta arguirmos "Estava com muita raiva!" e o outro nos dirá "compreendo", com a compreensão de quem sofreu com a morte da lebre mas compreende a lógica da cadeia alimentar, absolvendo de imediato a raposa. No entanto, deixamos de perceber que a raposa não causou mal à lebre. Ela comeu a lebre, como resultado da fome e da citada lógica da cadeia alimentar. Motivo de espanto seria obsevar a raposa trazer uma lebre amarrada ao rabo e passar a arrastá-la por terrenos pedregosos até sentir-se saciada. O único mal gratuito é causado pelo homem. Mas não trato aqui da peçonha, e sim da cobra.
Uma vez descoberta a capacidade de agir de forma irracional, tratou o homem de encontrar, tão logo, uma justificativa racional ao ato puramente irracional. E encontrou tal justificativa na raiva, muito embora nem toda a raiva resulte em atos imbecis. Mas todo o ato imbecil é mais compreensível quando resultado de um surto raivoso. Pois não é permitido ao homem agir sem lógica ou afirmar coisas sem sentido, mas em dados momentos torna-se necessário, é quando raiva nos dá a oportunidade única de apreciar a liberdade absoluta de nossos atos questionáveis.