Lactose

Posted: sábado, 24 de janeiro de 2009 by O Blog dos Poetas Vivos in Marcadores:
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O leite derramou e eu não contive o choro
me escorregou do olho um misto de água e sal.
Se em casa houvesse açúcar, pois, faria um soro
e juro, inverteria o fluxo lacrimal.

Meu coração desidratado eu curaria
sem precisar da intervenção de qualquer faca.
Não sentiria saudades daquela vaca
e compraria apenas pão na padaria.

Mas desolado, o pranto todo pus pra fora
tendo investido em vão contra a fisiologia.
Amaldiçôo aquele dia até agora

Bovina amada! De esperança, está vazia
a inesgotável fonte. Fora minha outrora,
mas é do chão o último gole da bacia.

André Prosperi

desenlaço - Roberta Villa

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o limite não existe
as cercas estão cerradas
o corpo solto
desconhece a gravidade
Onde não há vaidade ou cobiça
posse ou dependência
arbítrio, apito moral
ela está:

A liberdade
- é uma caixinha de utopia
(me redime e me fecha)


submerjo
transparente e incoercível
num estado primitivo
espontâneo natural


a ordem não estagna
os pactos não mutilam

o outro não me encontra

(o si mesmo não me acha)

Resenha: os Reis Filósofos - Roberta Villa

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Resenha de "O Iluminismo e os Reis Filósofos" de Luiz R. Salinas Fortes
A “Declaração dos direitos do Homem e do Cidadão” (Paris/ 1789) foi produzida durante a grande revolução francesa em meio a uma época de agudas transformações sociais, políticas e culturais para a humanidade. O que de fato foi conquista dos revolucionários Iluministas, colocando um fim ao “Antigo Regime”, pois até então não havia documento algum oficializando direitos ao homem (apesar da existência deste documento não significar necessariamente que suas diretrizes seriam respeitas). A velha aristocracia rural juntamente com a nobreza apoiada pela igreja – que formavam o pilar de sustentação do sistema feudal – vai perdendo seu poder econômico e político; em contrapartida, a burguesia, nova classe afortunada, ascende socialmente e passa a ter grande influência. O principal cenário desta vanguarda foi a França e sua capital, Paris.

Contudo, para realmente se compreender o Iluminismo (o movimento cultural europeu estabelecido entre os dois últimos decênios do século XVII à aproximadamente 1780), é necessário problematizá-lo, resgatar o seu contexto histórico com especial atenção. O Iluminismo também é conhecido como “Filosofia das Luzes”, as luzes, neste sentido, representam a crença na Razão humana; o homem então, se concebe livre, dono de sua verdade e senhor de suas opiniões, capaz de analisar, avaliar e julgar o mundo por si mesmo. A nova atitude do homem frente ao universo foi extremamente relevante, e os indivíduos se tornavam cada vez mais conscientes de sua nova realidade. Os sábios voltavam suas atenções para pensar o nosso mundo, adotando a imanência ao invés da transcendência. Assim, o espírito deste século ficou marcado pelo signo da liberdade e ainda, um dos ideais sugeria que a gestão da sociedade fosse submetida a este “império da razão”, desta forma, retornando a uma velha utopia filosófica com início em Platão.
Esta utopia de “reis filósofos” ilustra a grande aspiração iluminista em ter o poder político regido sob a Razão humana. Alguns “déspotas esclarecidos” chegaram a se sensibilizar com a causa, como Frederico II da Prússia, que incentivava e protegia as artes. Está aí um paradoxo da época: “um monarca pondo-se a defender a Moral contra os imperativos da razão de Estado” José I, na Áustria, também foi um “agente modernizador”, assim como Catarina II da Rússia. E no mais, esses governantes protegiam e abrigavam os “filósofos incompreendidos”. Formo-se uma corrente na filosofia denominada “fisiocratas”, eram os filósofos que se preocupavam em defender o “despotismo esclarecido”, elegiam a terra como a principal fonte de riqueza e a agricultura como o instrumento civilizatório.

No entanto, entre o grupo de pensadores da época que se convencionou chamar de iluministas, não houve objetivamente uma organização orgânica, sendo que a convergência das idéias era dada pelos novos princípios norteadores do conhecimento (como a História e a idéia do progresso) e também projetos em comum - a enciclopédia, por exemplo, (tanto que iluministas e enciclopedistas são termos praticamente sinônimos). Sobre o projeto da enciclopédia é ainda importante dizer que este teve significativo valor em configurar as principais idéias da burguesia do século XVIII, todavia ao afirmar que os grandes obstáculos ao progresso da filosofia eram a autoridade e o espírito filosófico. Além do verbete filosofia, o verbete “representante” (“cidadãos mais esclarecidos do que os outros e mais interessados nos assuntos, cujas posses os liguem à pátria, cuja posição os coloque em situação de sentir as necessidades do Estado...”) também diz muito da visão de mundo que estava sendo estabelecida. Porém, toda a força do racionalismo não pode ser resumida apenas ao empenho dos Iluministas, antes deles, pensadores como Francis Bacon, René Descartes e John Locke já desbravavam o território da razão e do empirismo, e ainda, as novas descobertas da Ciência com Isaac Newton, preparou fertilmente o solo dos tempos modernos. O principal articulador da enciclopédia foi Diderot,


uma personagem muito influente que teve posição de líder em relação aos demais pensadores. Teve uma vida conturbada pelas polêmicas que criava e apesar da posição consagrada como intelectual, em vida chegou quase à beira da miséria.Entre todos os iluministas ele foi o mais audacioso filosoficamente e não hesitou em romper de vez com a Teologia e Filosofia tradicional. Para ele o homem é como os demais seres do universo: uma porção de matéria constituída de átomos e construída segundo as leis da natureza. Diderot prefere o experimentalismo de Newton ao materialismo de Descartes - sua concepção prega que a matéria é essência do real, tudo é matéria – pode-se sintetizar seu pensamento por meio de três palavras: observação, reflexão e experiência. Seu ponto de vista político é utilitarista e prevê a política subordinada à economia. Entre alguns pensadores muito ligados a Diderot estão Holbach (um rico aristocrata), La Mettrie (entre suas obras está “O homem máquina”), e Condillac.


Outros destacados nomes da “primeira geração” do Iluminismo são Voltaire e Montesquieu (O Espírito das Leis). Montesquieu em sua obra discute a respeito da amplitude das leis e das diferentes formas de governar, apontando a natureza e o principio de cada governo; defende ainda que as leis não sejam exclusivamente boas ou más, elas vão depender da realidade de determinado povo para tanto.

Assim, Montesquieu inaugura um novo olhar para observar os fatos sociais, de modo metódico e sem idéias pré-concebidas. Mas, do ponto de vista político o autor não se demonstra “revolucionário” em apoiar a burguesia, preferindo defender o liberalismo aristocrático. Entretanto, Voltaire incorpora entusiasmado o “espírito do século”, tornando-se um grande agitador e propagandista do século das Luzes, acaba por fim sendo um homem-símbolo de sua época.
Voltaire é polêmico, acidamente crítico e faz oposição direta à Monarquia e a Religião, porém, deve-se compreender que ele não foi um ateu e sim, condenava o fanatismo e os preconceitos religiosos. Dirige sua atenção para o experimentalismo e o empirismo - inspirado por Newton e Locke, tem grande preocupação em descrever os fatos e as fontes com exatidão. Preocupa-se com os povos, e com o “espírito dos tempos e das nações”, adotando uma visão evolucionista do mundo. No mais, politicamente foi um reformista moderado e pragmático, defensor da liberdade e da propriedade privada, lutou por reformas administrativas e civis.


Berkeley, David Hume, Adam Smith e Bentham foram expoentes do Iluminismo na Inglaterra, sendo os dois primeiros intensamente influenciados pelas idéias de Locke. Em Berbekey há um otimismo típico do espírito Iluminista e Hume, pela sua originalidade de sua tese anti-dogmática, teve deveras influência sobre os filósofos posteriores. Hume é conhecido por sua concepção política utilitarista e também pelo associacionismo e ceticismo filosófico, trazendo a tona “uma teoria da alma humana e do seu funcionamento em que se fundamenta uma determinada idéia sobre o que vem a ser o conhecimento humano”, abre caminho para o que vem a ser a “revolução kantiana”. A Adam Smith deve ser dados os créditos pela idealização da Economia Política (uma nova ciência).O iluminismo alcançou também fortemente a Alemanha com Wolff, Reimarus, Lessing e Herder.
Sobretudo, Jeans - Jacques Rousseau viveu em meio ao século das luzes sem de modo preciso poder ser classificado como um Iluminista, nos remete a uma estrela brilhando solitária.


Personagem complexa, Rousseau se afirmava católico, era apaixonado e grande estudioso da música e defendeu uma tese que viria a se chocar radicalmente com a nova filosofia da época, ao alegar que as ciências e as artes ao invés do progresso dirigiam a humanidade à degeneração.Sua visão sobre a desigualdade afirmava que foram as próprias relações estabelecidas socialmente que fomentaram as imensas e cruéis distinções entre um homem e outro, portanto, a desigualdade não é algo natural. E justamente por ser a desigualdade a fatal maldição da humanidade, Rousseau criticava severamente a civilização e a organização social. Buscando resoluções para este problema dos homens, Rousseau escreveu “Do contrato Social”. Além desta importante obra, Rousseau escreve “O Emilio”, esta, basicamente é um longo tratado pedagógico em forma de romance.As duas grandes diretrizes de Rousseau são: Liberdade e Soberania.
Com todas as suas contradições, ideais e divergências Rousseau foi considerado perigoso, subversivo e passou considerável parte de sua vida como fugitivo. Teve diversos conflitos tanto como os clérigos católicos como os adeptos iluministas sendo que um grande inimigo seu foi Voltaire, que sempre ironizou e satirizou suas obras; já o antropólogo Levi-Strauss o considera como precursor da etnografia. Apesar de tudo, Rousseau foi bem sucedido intelectualmente e ainda em vida foi reconhecido como um grande pensador conquistando a empatia de figuras ilustres de sua época. Também foi um bom contribuinte do projeto enciclopedista, apesar não ser materialista ou ateu.
No mais, se os inflamados anseios libertários dos filósofos das Luzes fossem hoje confrontados com a realidade, haveria certamente uma frustração. “Depois o capitalismo quis se somar a seus sonhos e dele se apoderou, acabando por destroçá-los de maneira impiedosa (...) miséria e opulência aí continuam lado a lado como a época de Rousseau.” A burguesia que ascendeu ao poder perpetuou de fato os ideais iluminados? Será que no seio do Iluminismo estava já presente a matriz do totalitarismo? Enfim, o sonho destes filósofos (otimistas burgueses ou liberais aristocratas) continua distante côo um horizonte inalcançável.

SÃO PAULO

Posted: by Fabiano Fernandes Garcez in Marcadores:
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Planalto de piratininga,
País dentro de um país,
Túmulo do samba, locomotiva do Brasil
E terra da garoa

Esta é São Paulo
Onde se encontra
O guri, o piá, o garoto e o moleque
Que ficam à toa

São Paulo do pobre paulista
Dos albergues do centro,
Do jardim angela, guianazes,
jardim joamar e jova rural

São Paulo do rico paulista
Da vila Madalena, Pinheiros,
Moema e Avenida Paulista
Símbolo do capital

Os carros da vinte e três
Os prédios da Faria Lima
E os pedestres da barão

Da galeria do rock
Do largo São Bento
E a Ipiranga com a São João

A noite eu rondo
A cidade iluminada
Tudo posso encontrar

Sempre disseram
Que São Paulo
Nunca pode parar

Ra ta ta tá o metrô
Vai passar e te levar
Do norte ao sul
E de leste ao oeste

Trem, ônibus, táxi,
Motos, helicópteros
E a ponte aérea
na maior capital do nordeste

O punk da periferia
Da Freguesia foi ao Brás
A convite do Ernesto

Faixas, placas e bandeiras
Ruas interditadas
Em dia de protesto

São Paulo das marginais,
Pontes, viadutos,
O elevado e a radial

São Paulo dos marginais
Pedintes na rua
Do bom e o mau policial

Rebelião na Febem
Hospitais lotados
Briga de torcidas
E enchentes

Shoppings, cinemas,
Teatros, shows
E restaurantes
de todos os continentes

Alguma coisa acontece
Em qualquer esquina da cidade
Sou paulistano com felicidade

Assim é o Tom seu Zé
Apesar de todos os defeitos
São Paulo te carrego no peito.


Poesia se é que há p. 16