Soneto Babaísta

Posted: sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009 by O Blog dos Poetas Vivos in Marcadores:
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Babás, que dos bebês limpam as babas,
Os gorfos, merdas verdes e amarelas,
Que em meio a fraldas mil emergem belas:
Cuideis também de quem carrega barbas

Mandeis, pois, tudo pra casa do catso
Que a arte seja motivo de afã
que ouvir calypso cause-lhes colapsos
que o mal seja curado ao ler Lacan

Babás de todo o meu Brasil, uni-vos!
Não tendes a perder senão chupetas
(No uso mais formal do substantivo)

Sabeis que as coisas por aqui vão pretas
embora o pensamento positivo
tenha tomado conta do planeta.

André Prosperi

Sorria (seção auto-ajuda)

Posted: segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009 by O Blog dos Poetas Vivos in Marcadores:
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Seja Feliz!
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Olá, querido leitor! Se você é do tipo que não acredita em coincidências, deve estar pensando: “nada acontece por acaso” Ou: “esse texto deve ter algum propósito”. Mas, se por outro lado você é do tipo que acredita em coincidências, a esta altura já terá se perguntado: “será feliz ou infeliz esta coincidência?”. Ah! Com alegria te digo: eis a mais feliz das coincidências, eis o mais nobre entre propósitos: esclarecer-te. Esclarecer tua alma acerca dos caminhos que nos conduzem à felicidade!
Sei que pode parecer difícil encontrar paz e felicidade nos dias de hoje, onde as guerras são cada vez mais freqüentes, onde a fome mata muito mais do que a morte poderia matar sozinha, onde meia dúzia de países sobrevive graças à miséria do resto do mundo e onde milhões de pessoas pagam vários dinheiros para ver a Madonna. Mas deixemos o pessimismo de lado, pois, a despeito das adversidades, tornar-se uma pessoa feliz pode ser tarefa muito simples, acredite. Isso mesmo, acredite! Não importa em que, mas o quanto. Jamais duvide. Em momento algum esteja disposto a mudar de opinião. Lembre-se que uma vida de dúvidas e incertezas é uma vida de infelicidades. Ora, se não quer a infelicidade, simplesmente deixe de procurá-la, ou seja, deixe de questionar o mundo ao seu redor. Pense menos e verá como o viver parecerá suportável.
Entretanto, não basta apenas livrarmo-nos das dúvidas. Para tornarmo-nos pessoas realmente felizes é necessário um otimismo desenfreado e na maioria das vezes constituído de incoerência e absurdo. Por exemplo: se estiver sem dinheiro, sorria! Lembre-se dos mendigos que não têm dinheiro nem comida. E, se o mendigo sem dinheiro e sem comida for você, sorria mais ainda! Lembre-se que há no mundo mendigos sem dinheiro, sem comida e sem as pernas. Mas se você for o mendigo que não tem dinheiro, comida ou pernas, sorria! Espelhe-se nos mendigos que não têm dinheiro, comida, perderam as pernas, mas são felizes mesmo assim, porque não perderam a esperança, não deixaram de acreditar em seus sonhos. Descubra a importância de traçar uma meta e viver o sonho de alcançá-la.
Sigamos, todos, o exemplo do cãozinho que tenta, incansavelmente, morder o próprio rabo e não consegue, mas sabe que é possível. – A esta altura o leitor pode estar pensando: “como realizar tal façanha se somos seres humanos e não dispomos de cauda?”. Ou então: “onde encontrar a ‘cauda adequada’ para morder?”. Ora, olhe ao seu redor! Essa vida proporciona a todos nós a “calda adequada” para cada momento de nossas vidas, do dia do nascimento ao dia da morte e vice-versa. Entretanto, pode surgir uma dúvida: “O que faríamos depois disso? Passaríamos o resto de nossa existência a mastigar o próprio rabo”. A resposta é NÃO! Todo mundo sabe que satisfação encontra-se no objetivo e não no objeto. O suposto sentimento de satisfação a ser alcançado através da conquista de certo objeto é efêmero. Logo sentiríamos a “dor da mordida”, e em pouco tempo morder o próprio rabo se tornaria algo sem graça e sem tempero. Começaríamos a nos perguntar: “por que razão as pessoas correm atrás do próprio rabo?” ou “onde se chega caminhando em círculos?”, enfim, acabaríamos por nos tornar descontentes e não é isso o que queremos.
Se queremos mesmo levar uma vida repleta de felicidade, devemos fazer o seguinte: ao acordar, agradecer por mais um dia de alegria e dizer “sou feliz por estar vivo. O amor é lindo como o mundo que me cerca e todo o ser humano é amável e gentil”. Deve-se repetir estas verdades três vezes ao dia, ao levantar para trabalhar, durante o intervalo para almoço e na hora de se deitar. Gravemos, em letras indeléveis, a frase: “sou contente, sou feliz”. Tornemo-nos seres iluminados. Compreendamos que quem nos rouba, o faz por merecer muito mais o que é nosso do que nós mesmos.

falando sobre poesia - Fabio Weintraub

Posted: sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009 by O Blog dos Poetas Vivos in Marcadores:
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“Não sei se a concisão pode ser considerada um paradigma para determinadas poéticas e não para outras. Penso na concisão como valor universal, transtemporal, como índice que atesta a voltagem de todo texto poético para além de qualquer opção particular. Trata-se de algo que quase se confunde com a função poética, com a "projeção do princípio de equivalência do eixo de seleção sobre o eixo de combinação" (Jakobson) e que pode ser nomeado de muitas maneiras: polissemia, condensação (Pound: dichten = condensare) etc. Estou só lembrando de slogans teóricos muito conhecidos sobre os quais não é necessário insistir.Coisa bem diversa é identificar concisão com brevidade, e aí a coisa muda de figura. A brevidade, sim, é um valor que pode interessar mais a alguns poetas que a outros. Ocorre que, por algum equívoco de leitura, determinados poetas passaram a endeusar as formas breves (como o epigrama e o haicai, só para citar alguns exemplos) como se poemas de grande extensão significassem necessariamente falta de rigor, desprezo pela concisão. O que não passa de um enorme engano. O poeta pode ser breve sem ser conciso; e vice-versa. Acho que é preciso desconfiar desses que fazem haicais a granel, ou dos que aviam poemas-pílula com ingredientes vencidos e sem receita médica.Por fim, persigo sempre a concisão porque sem ela não há poesia. Com relação à extensão dos poemas, gosto de experimentar de tudo um pouco. Parafraseando Bandeira: "todas as extensões, sobretudo as inumeráveis".

(...)
(Não foi Baudelaire quem disse que a poesia é a "infância reencontrada"? Concordo totalmente, a poesia é o natal da linguagem; linguagem em estado nascente. Uma província na qual a distância entre homem, idéia, palavra e coisa parece abolida (ou ao menos encurtada), onde, mais que representar, o poeta, demiurgicamente, presentifica o mundo pelo verbo.Mas, é preciso lembrar, trata-se de uma infância "reencontrada", isto é, de uma infância que não descarta a capacidade adulta de converter o espanto em palavras ... de uma brincadeira séria, de gente grande. Se não fosse assim, poderíamos equiparar o ignorante preguiçoso, que dorme a salvo das agulhadas do espírito, ao sábio que, após longas pesquisas, afirma só saber que nada sabe. Dito de outra forma: "um artista leva muito tempo para se tornar jovem" (Picasso).
(...)
Todo poeta que queira desenvolver um trabalho sério, consistente, passa por um longo período de aprendizado durante o qual se embebeda, pela leitura, da obra de outros escritores os quais, não raro, procura imitar, atento a detalhes de contrução, léxico e ritmo daqueles interlocutores que elege como seus. Isso o leva a constituir um censor interno que o ajudará a trabalhar. A dimensão do que seja a palavra (o ritmo, a forma...) correta em cada caso ser-lhe-á dada por tal censor. Sem embargo, como nos ensina o poeta e ensaísta W. H. Auden, a palavra correta "ainda não é a verdadeira, pois o aprendiz está agindo como um ventríloquo, mas já se distancia da poesia comum; está aprendendo a escrever um poema autêntico."

TEXTÍCULO I

Posted: segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009 by O Blog dos Poetas Vivos in Marcadores:
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Acho graça no seu medo
De encarar o espelho.

Acho bonito

Cada um cria e crê
No próprio mito

POETA

Posted: quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009 by O Blog dos Poetas Vivos in Marcadores:
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Um dia desses, eu separo um tempinho e ponho em dia todos os choros que não tinha tido tempo de chorar.
Carlos Drummond de Andrade

A doença

Posted: terça-feira, 3 de fevereiro de 2009 by Fabiano Fernandes Garcez in
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Ficou surpreso quando percebeu que seu peito estava sem pêlos, achou estranho, de manhã eles estavam entre os botões da camisa, percebeu também que umas poucas gordurinhas atrás de seus mamilos também tinham sumido. Seus braços, como o peito, despelados ficaram mais rijo, mais forte, chacoalhou os ombros, achou bom e socou uma camiseta no corpo e saiu.
Pela manhã estava dentro de uma camisa branca, mais longa que sua cintura, agarrada ao seu tórax e as mangas compridas desabotoadas, a calça meticulosamente rasgada nos dois joelhos, botas de bico quadrado que espelhavam seus cabelos descoloridos artificialmente e artificialmente fixados em pé.
Ia para a faculdade apenas para ser visto e ver as menininhas, acordava cedo, tomava banho e café, escolhia uma roupa (que não houvesse usado naquele mês) ia para frente do espelho, voltava, trocava de peça, ia para frente do espelho, gostava, colocava, olhava, olhava, virava, olhava e gostava, pegava o perfume (um que não sentiram o cheiro aquela semana), cheirava, espirrava, espirrava, pegava o gel fixador e o pente, voltava ao espelho, espalhava, cheirava, passava nos cabelos, penteava, não gostava, espalhava, cheirava, passava nos cabelos, gostava, olhava, virava, olhava e sorria, saia.
Pegava seu carro, lavado e encerado diariamente (não por ele), ligava o rádio, procurava, procurava, procurava, sintonizava e o volume aumentava e cantava, antes, sempre as mesmas músicas do top teen das paradas, já foi samba, sertanejo e: _ Agora o que “pega” é o forró ele ia cantando forró.
Chegava atrasado, passava enfrente da sala, era visto por todos, gostava, entrava, cumprimentava, conversava, marcava ficar até as tantas num bar da esquina e só então abria o caderno.
Após a faculdade ia para academia, ver a minuciosa evolução de seus músculos, gostava de pegar peso, se achava mais homem cada vez que pegava mais peso e sentia bem de perto o ácido cheiro do suor dos outros homens.
Depois ia ao bar, já tarde, ia pra casa, mas naquele dia, ele teve uma surpresa, seus pelos sumiram, não se preocupou, mas agora, era demais, os dedos do pé, não se mexiam, não se dobravam. Gritou, todos acudiram, chamaram um médico, o médico veio, balançou a cabeça, lamentou e disse desconhecer aquilo. Ele chorou.
Possuía uma caderneta na qual marcava os nomes das meninas beijadas que assim como ele encarava a vida desta maneira tão cheia de ideologia e utilidade, sempre achava sua porção feminina de pensamentos e atitudes, as que com ele transava marcava em outra, as que beijava ou transava duas vezes marcava um “xis” ao lado do nome.
Depois de tanto chorar acabou adormecendo, quando acordou no meio da manhã, tomou outro susto, agora era os dedos da mão, estavam duros e grudados uns aos outros, dessa vez não chorou, tentou dormir, talvez tudo fosse um sonho, um horrível sonho, um pesadelo!
Seus diálogos com os amigos eram sempre sobre mulher, casas noturnas, carros, top teen, nacional e internacional, new top, grifes de roupas e óculos, adorava o cinema americano e as novelas brasileiras.
Passou dois dias, entre médicos, choros e tentativa de acordar do pesadelo, seus amigos ligaram, não queria ser visto naquele estado, estava esperançoso, pois a doença não evoluiu neste período, talvez até regredisse.
Sempre foi arrogante, quando percebia que alguém não lhe seria útil, então o presenteava com o desprezo ou a humilhação. Os empregados que sabiam disso, na frente sua tratavam-lhe bem, quando de trás...
Acordou sufocado, não conseguia respirar, entrou em desespero, já não conseguia chorar, gritar nem mesmo falar.
Agora apenas olhava nas caras, um pavor misturado com pena, de seus amigos, suas namoradas e outras não qualificadas como tal, as pálpebras já não se fechavam, seu pai comprou um aparelho hospitalar cuja função era pingar uma gota em cada olho de lubrificante em uma porção de tempo.
Nesta situação nem percebeu que seus joelhos ou cotovelos não se dobravam, sua boca também não se abria, ainda conseguiam alimentá-lo com um canudo colocado do lado direito da boca, onde era jogado uma papa bem rala feito por sua mãe, temperada com algumas lágrimas da pobre senhora.
O tempo foi passando, os amigos se afastando, as namoradas arrumaram outros namorados, restando aos pais acariciarem seus cabelos que já não eram os mesmo de antes, e os empregados retribuir as antigas humilhações com piadas e chacotas.
Não houve médico no mundo que descobriu a enfermidade do rapaz, não foi por falta de esforço do pai, que empenhou quase toda sua fortuna nisso, a mãe coube empenhar seus esforços em rezas, que nada adiantou.
Antes de, enfim, morrer, uma das, agora poucas, empregadas pegou um grande espelho e o colocou em cima do rapaz que em sua estática apatia conseguiu reunir forças para ver que havia se transformado em um boneco de plástico.

a última prece

Posted: segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009 by O Blog dos Poetas Vivos in Marcadores:
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Te peço, oh Deus, não quero mais a dádiva
Retira-me o sabor desta amarga fruta
qual malícia consome essa íris ávida
hostiliza a alma e a humana conduta


Se Tu criaste a dor, sou eu a Criatura?
Renuncio, então, tua vil sabedoria
que me expõe dúvida sob a face pura,
condena-me a noite turva após o dia


Cuspo a carne da maçã envenenada
tirou-me o centro, deixando-me a beira
duma verdade pouco tudo, muito nada


Oh Deus Mito – sei – não conheço outra via
Tu és o Grande Signo, quiçá brincadeira
Porém, resta-me rogar: mim dá ingnorância.




Roberta Villa

Galeria de humanoteratos

Posted: by O Blog dos Poetas Vivos in Marcadores:
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Vocês apontam os gatilhos para os outros atirarem
Então vocês se afastam e assistem enquanto a contagem dos mortos aumenta
Vocês se escondem em suas mansões enquanto o sangue dos jovens escorre pelos seus corpos e são enterrados na lama
Bob Dylan


Mas pra quem sabe olhar a flor também é ferida aberta e não se vê chorar.
Chico Buarque
Aqui jaz o enviado dos bairros da miséria
descreveu os atormentados do povo
E aqueles que o combateram
O que foi educado nas ruas
O de baixa extração
Que ajudou a abolir o sistema de Alto e Baixo
O mestre do povo
Que aprendeu com o povo.
Brecht



Não é o medo da loucura que nos forçará a largar a bandeira da imaginação
André Breton


Amor não é aceitar tudo.
Aliás, onde tudo é aceito desconfio que há falta de amor.
Maiakovski